Heitor Dhalia volta delicado em "À Deriva"
CANNES - “Obrigado a todos, estou muito feliz de estar aqui, porque adoro o Festival de Cannes”, disse o cineasta Heitor Dhalia, num misto de português e inglês, ao apresentar seu filme “À Deriva” na mostra Um Certo Olhar, na noite desta quinta-feira. Estavam a seu lado no palco, além do diretor artístico do festival, Thierry Fremaux, os atores Vincent Cassel, Débora Bloch, a estreante Laura Neiva e Cauã Reymond – e na plateia, sua namorada, Grazielli Massafera. A sala Debussy estava lotada, com presença forte de brasileiros. “Gostaria de dedicar essa sessão a Laura Neiva”, finalizou Heitor, também autor do roteiro (com colaboração de Vera Egito).
Em “À Deriva”, a família formada por Mathias (Vincent Cassel) e Clarice (Debora Bloch) e os três filhos passa temporada na praia para que o pai consiga terminar de escrever seu livro. A mais velha, Filipa, tem 14 anos e começa a ter sua sexualidade despertada no momento em que os pais passam por crise no casamento e seu pai tem um caso com Angela (Camila Belle).
O filme é uma surpresa na carreira de Heitor Dhalia, que preferiu os tons sombrios em “Nina” e “O Cheiro do Ralo” - este, extremamente masculino. “À Deriva” é solar, retratando em clima de lembrança nostálgica as férias de verão na praia que marcaram tantas infâncias e adolescências, em fotografia sensível de Ricardo Della Rosa.
O filme trata a adolescência, período de tantas transformações, com delicadeza. Os personagens femininos são seres completos, algo bem raro no cinema nacional, com destaque não só para Filipa e seu misto de criança e adulta como para Clarice, uma mulher forte e cheia de facetas inesperadas, que ganha ainda mais graças à atuação de Debora Bloch.
É verdade que não se trata exatamente de material original, mas muitas vezes tudo o que o cinema brasileiro precisa é de uma história contada direito. À parte a claque de amigos presentes à sessão, “À Deriva” foi genuinamente apreciado pela plateia que lotou a Debussy.
veja o trailer de "À Deriva":
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