quarta-feira, 20 de maio de 2009

A geração do silêncio

O que tenho a dizer; tudo se resume a isso. Prefiro não me esconder no passado. Talvez essa década, essa geração, seja apagada dos livros por não ter nada a dizer. Seria estúpido repetir tudo que já foi dito antes, tanto patético seria resumir-me a um saudosismo intocável. Sejamos sinceros agora. Para dizer somente a verdade é preciso acordar o monstro adormecido dentro dessa sala sufocante do mundo contemporâneo. Ninguém teve percepção para encará-lo olhando nos olhos. Não diz respeito à mesquinhez ou superficialidade, não é a raiz do problema. 

Enquanto degustávamos cada segundo de nossa juventude, achando que nossa lucidez irradiava luz que contamina como a lua cheia nos olhos dos amantes, as pessoas nos encaravam com um olhar estranho.

Certas mudanças não foram compreendidas – cursos sem volta tomados pela globalização; Por além dos boatos que se especulam pelos bares com seus azulejos sujos que sempre me lembram um banheiro – estamos vivendo do ultimo gole da garrafa de rum tomada na noite passada, com nossas vozes a borrifar os jardins onde não brotam flores, tão pouco se espalham. Um longo deserto da seca terra vermelha pode ser visto na careca dos empresários que carinhosamente apelido de hienas. Dizeres por dizeres, rostos desentendidos quando converso, sempre me respondem com outras palavras – “Esta falando algum tipo de dialeto?” Ou no máximo, um sorriso piedoso de uma garota maliciosa qual leio em seus lábios “nada como carne fresca” – e então, quando se acorda na manha seguinte, já se sabe, é a mesma história, o ciclo recomeça...

Nós somos a geração do silêncio. Acabamos por deixar nossos importantes romances que escrevemos presos na parede do quarto para que quando não nos dermos conta, tenhamos os decorado por inteiro. A liberdade morna em que podemos falar o quanto quisermos já que todas as informações e expressões são dissimuladas - nossa criatividade é reduzida automaticamente a um mero anonimato que ecoa pelas vielas sórdidas por onde passamos pelas noites. Continuamos a saborear o prazer de deitar com as estrelas, de andar pelos pastos, de seguir a batida desenfreada do jazz que nos guia atrás do paradeiro perdido de Kerouac em algum lugar desconhecido; tais coisas ninguém pode nos tirar – mas não sei por quanto tempo, o que vem a seguir?

Fico admirado com os bares boêmios, são extremamente eficazes em exaltar o sorriso do idiota – do que tento me afastar... Me faz até sentir vergonha de tomar minha cerveja; sempre me pergunto, “que faço aqui?”.

Qualquer um que esteja realmente vivo já deve ter sentido essa sensação, chega a ser bizarro.

O pôr-do-sol é um mero cenário sem significado para a maioria das pessoas; histéricas, com seus celulares, seus carros que acham tão bonitos e mais se parecem com latas gigantes de sardinha – sempre flertando, no meu ouvido nos ônibus, nas mesas ao lado; isso quando não resolvem conversar comigo e dizer tudo sobre a sua vida, me controlo para não ter que dizer – “você vive a sua vida pra você ou para ter que me fazer ouvir?”

Ainda se fossem coisas interessantes, mas sempre esses papos de desolação ou medo disfarçados para parecer imponente e sustentar todos esses egos gigantescos – o slogan das propagandas é claro “Se você é inseguro finja autonomia!”. E acaba nisso, uma marcha de pessoas sem conteúdo com autonomia na burrice – quem são elas?

Não sei se os culpo ou se tenho pena, minha cabeça se recusa a julgar, é a lei do equilíbrio, pacifica sobriedade disfarçada de qualquer coisa que a acaba por parecer loucura, mas que se dane...

Pelas ruas a sua volta todos dizem ter uma teoria, todos dizem ter pratica, todos sabem de tudo, menos eu que me recuso entrar nesse delírio. Me lembram muito as viagens de Hunter Thompson, mas hoje é diferente, você nem precisa correr atrás, sempre tem um cara sorridente que diz “Hey cara, tome aqui sua maleta de drogas”, o kit vem completo: celular, computador, ticket merda, ingresso para o futebol, 342 canais da TV a cabo, uma caixa de maquiagem, uma garrafa de Whiskey, Lexotan injetável - e na versão plus reservada para os velhinhos; 3 cartelas de frontal semanais. Para os jovens ainda existe o grande lance dos falsos ídolos, ou dos mártires que já fazem 50 anos do aniversário de morte. E propagandas... Há as propagandas... Somos bombardeados delas, de todos os lados; publicitários se acham inteligentes por manipular pessoas sensíveis, vulneráveis e debilitadas a comprar seus produtos que não servem para nada. Eles são inconvenientes na verdade, gostaria de depositar três toneladas de papeizinhos de promoções sobre as suas casas, seria genial; uma imagem linda. Aberrações por todos os lados!

Mas essa é dita a era da informação; a era da informação dissimulada e extremamente banalizada.

Às vezes penso que posso estar passando a idéia de que sou um pessimista, mas longe disso, se você tem conhecimento e o leva pra esse lado, parabéns, você é o rei dos tolos! Percebeu tudo menos que o dono da sua vida e dos seus hábitos é você. Sou apenas um escritor, descrevendo o que vejo, mas isso não se diz respeito a mim. As engrenagens continuam a rodar a todo vapor! Você não pode ver que ninguém está fugindo da desolação?

Se você vê, bem vindo à geração do silêncio. Somos hoje observadores cintilantes e silenciosos sobre o céu deixando chaves perdidas pela cidade, somos os últimos a dormir essa noite. Estrategistas minuciosos, traçando nossos caminhos inconseqüentes perceptivos, os índios dessa cidade. Largamos nossas armas, não existem causas para se lutar, tudo se diz respeito à sobrevivência – nunca foi meu objetivo carregar a cruz. Para quê?
Todos viram seus olhos! Não sou profeta nem nada perto disso, sou apenas um jovem sem ambições, que desistiu de jogar os jogos mentais, não me basta existir, passarei meus dias vivendo ao invés de suicidá-los com piedade, não há porque lutar, “a revolução não será televisionada”, não há porque lutar...

Somos nossa culpa, nós somos nosso mérito e carregamos nosso próprio fardo.

O fogo continua a faiscar, enquanto eu e Charles olhamos o horizonte de cima da montanha, cantando encantos ao vento que leva a lenha a fornalha cedendo luz aos campos verdes e o sol alaranjado em um domingo sem expectativas, perdendo o trem para Jundiaí atrasados, fugindo da tempestade que chega, conversando com bêbados enquanto a noite cai para passarmos a semana sem graça – vendo nossos cigarros queimarem.

                                                                                                  Mathias Reis - Le Voyou

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